Abel Tesfaye, ou The Weeknd, é o artista mais inconvencional desde Prince. É o cantor masculino mais popular desde Justin Timberlake. E mais importante, é o maior talento na música Pop desde Michael Jackson.
Com o lançamento da genial e assombrosa 'The Hills' e seu clipe impactante, seguido pelo estouro que foi 'Can't Feel My Face', 'Beauty Behind the Madness' se tornou um dos discos mais esperados do ano.
Muitas críticas surgiram ao longo do tempo por conta de que o cantor teria deixado suas origens de lado e ido para uma orientação Pop, em troca de conseguir atenção e fama. Para todos os fãs que o deixaram ao achar isso, este álbum é um brinde à vocês que se apaixonaram pela fase obscura do cantor, a única diferença é que agora ele elevou a fórmula para um próximo nível, onde os assuntos que envolvem drogas e sexo, e o som pesado e complexo pode ser apelativo para todos os públicos.
O álbum mais parece uma coleção de histórias, sendo contadas pelo ponto de vista de Abel sobre toda sua vida, como ele vê a fama atualmente e sobre todos os temas que o tornaram famoso por. A genialmente produzida (por ele próprio) 'Real Life' apresenta sua vida enquanto recria citações de 'Billie Jean' (minha mãe me disse para tomar cuidado), a alternativa, indecisa e à parte do resto do álbum 'Loosers' conta sua história enquanto a recentemente lançada 'Tell Your Friends' quem ele é. "Sou aquele negro com o cabelo, que canta sobre usar drogas, fazer sexo com vadias, viver a vida intensamente", ele canta na última, que produzida por Kanye West, mostra sua genialidade nua e vulnerável colocada sobre uma série de sons e batidas que mostram o por que de West ser o produtor mais requisitado hoje em dia.
Não necessariamente ele precisa contar uma história, as Pop-orientadas e excelentes 'Often', e às odes a Michael Jackson 'Can't Feel My Face' e 'In The Night' mostram o por que. A primeira recebeu merecidamente um lugar entre as 14 faixas, e mostra como Abel pode misturar sua linguagem nua e crua com um som que pode ser ouvido por todos, e agradecemos por não tornar a música favorita de Katy Perry na hora de fazer sexo (dito pela própria) apenas um single solitário. Já na segunda o cantor se segura e não solta nenhum palavrão, e o que mais parece uma música para se dançar mais do que se ouvir, nada mais é que uma meditação sobre como o amor e as drogas são extremamente parecidos. Não se deixe enganar pela produção, e também não vá muito fundo nas letras, ambas as músicas poderiam figurar tranquilamente como peças não lançadas de clássicos como o próprio 'Thriller'. 'In The Night' por sua vez traz um refrão cativante, e apesar da sonoridade e vocais muito próximos ao estilo do Rei do Pop, seu assunto é obscuro e volta à temática de histórias de terror apresentadas em 'Kiss Land' de uma forma magistral, ao falar sobre uma jovem que cresceu vendendo o próprio corpo, e como isso é uma coisa comum no meio em que The Weekend viveu.
As poucas colaborações aqui se justificaram. Apesar de 'Losers' com Labyrinth, estar off demais em relação ao resto do álbum, a mesma oferece seus momentos, mas o grande destaque está nas subsequentes 'Dark Times' e 'Prisoner'. A primeira, com Ed Sheeran, fez a todos os fãs de longa data se decepcionarem quando foi anunciada, no entanto oferecendo uma performance vocal incrível de Abel e com letras pesadas e limpas sobre a dificuldade em se relacionar por conta da vida que escolhem, a música mais traz Sheeran para o mundo obscuro de The Weeknd do que o contrário, e o refrão prova isso "Nas horas escuras eu vou voltar para as ruas, prometer tudo que não quero, isso é tudo o que eu poderia ser, apenas minha mãe poderia me amar por quem eu sou". Já a segunda, com Lana Del Rey estava sendo aplaudida, e continuará após ser ouvida. 'Prisoner' poderia ter fechado o álbum e mostra como a simplicidade de suas letras pode ser comovente e até mesmo perturbadora.
Assombração, paranoia e perturbação são temas recorrentes aqui, mas eles estão no seu auge, mais bem expressados e explorados no maior destaque do álbum. 'The Hills' é a música que se esperava de Abel Tesfaye, de The Weeknd, ou qualquer outro artista da atualidade. A linha de baixo assombra e faz pular o coração mais desconcentrado quando a mesma explode (vide o vídeo da canção), enquanto os vocais agonizantes se juntam em um refrão sobre chamar uma garota de programa após as 5:30, pois não importa quanto tente se reabilitar, quando está "ferrado" The Weeknd é ele mesmo.
'Beauty Behind the Madness' no entanto, não é perfeito. E apesar de serem melhores e mais profundas do que a grande massa de canções Pop que recebemos anualmente, 'As You Are' e 'Angel' nunca chegam onde deveriam e sofrem da falta de ousadia das demais faixas. Até mesmo a diferente e de fácil escrita 'Shameless' oferece um lado diferente do cantor que não deixa de somar à sua já incrível variação de estilos enquanto ele prova que também pode estar em qualquer roda de canções, basta um violão e uma voz que consiga reproduzir o mais próximo possível de MJ sem o imitar.
Mais do que cumprindo sua proposta, BBtM estabeleceu The Weeknd como um artista pronto, que mais do que tudo tem controle sobre sua carreira e co produz a maioria de suas canções, dando à si mesmo uma cara e som próprios. Suas letras já eram únicas, seu estilo vem cada vez mais se tornando intocável, sua imagem está sendo difundida ao redor do mundo, e caso ele consiga elevar ainda mais a utilização de seu incrível talento, enfim poderemos ter um sucessor digno do trono de Rei do Pop atual. Enquanto ainda é perigoso dizer que ele é o melhor artista Pop masculino dos últimos anos, é bom irmos nos familiarizando com a ideia, e a peça central de tudo, 'Acquainted', justifica isso muito bem.
4.5/5.0