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Crítica - Kendrick Lamar - To Pimp a Butterfly

Kendrick Lamar comentou recentemente que acreditava que o título do álbum, ‘To Pimp a Butterfly’, seria estudado no futuro. E talvez ele esteja certo.


A frase foi explicada por Lamar na última faixa do álbum, a épica e imortal ‘Mortal Man’, uma das músicas mais importantes lançadas no século 21. São doze minutos, em que após fazer uma homenagem a Mandela, Martin Luther King, Michael Jackson e outras figuras negras durante a música propriamente dita, o rapper termina seu monólogo que vinha sendo construído de forma genial após o final de diversas faixas do álbum e emenda um diálogo com uma gravação de Tupac de quando o mesmo ainda estava vivo. Após 6 minutos de um dos momentos mais importantes e emocionantes da história do Hip-Hop, Lamar explica que a borboleta é o talento e a beleza dentro da lagarta, e apenas quando a última aprender a utilizar e extrair o máximo da primeira vai conseguir por si só se tornar uma borboleta. E é exatamente isso que Kendrick faz durante os 78 minutos do álbum, extrai o melhor de si mesmo. O jovem adulto que antes era um diamante bruto, agora está lapidado, e com seu brilho mais ofuscante do que nunca.

Seu lirismo foi alçado a um novo nível, e junto à uma produção fantástica que agora adiciona elementos como o Funk, o Soul, o Jazz e a já mencionada poesia falada, Lamar cria uma atmosfera que representa perfeitamente o caos nos dois mundos que viu e que cerca a humanidade nos dias de hoje. Agora ele não fala mais apenas sobre e para Compton e sim acerca de toda a América. A importância deste trabalho está em tudo que ele significa, tudo que ele representa para os negros e para a nossa sociedade atual. Kendrick procura respostas, sentidos e uma cura para todo o ódio, toda a discriminação, e toda a dor que o envolvem desde sua vida nas ruas e que agora está presente na sua cabeça.


Dissertar sobre todas as entrelinhas e significados ocultos levaria muito tempo, e provavelmente um livro. A fama pode ser um assunto datado no Hip-Hop, mas Lamar transforma cada canção em algo tão profundo que o que vemos é a verdadeira parte ruim da fama. A parte da paranoia, da dor e da dúvida que permeiam em sua cabeça estão presentes em todo o álbum. Até mesmo canções como a excelente abertura, 'Wesley's Theory', que mais parece uma piada com o ator (Wesley Snipes) detalha de forma genial como a indústria do entretenimento suga os artistas negros, e até a animada e maravilhosa ‘King Kunta’, que a principio fala da subida de Kendrick a fama, compara ela com a vida de um famoso escravo (Kunta Kinte) que tentava fugir, e lhe foram cortadas as pernas. Contar um pouco da história negra também se tornou uma questão relevante para Lamar, sendo que o mesmo ocorre na difícil, triste, e pesada ‘The Blacker The Berry’, uma obra prima do Rap moderno. A situação atual dos negros também é importante e sempre que a vida nas comunidades pobres forem ser estudada, ‘Hood Politics’ não pode ser deixada de fora.


Em ‘How Much a Dollar Cost’, uma das canções mais poéticas da história recente da música, ele levanta questões sobre o egoísmo e como ele pode nos custar a nossa passagem para o tão sonhado paraíso. Em ‘For Sale?’ ele cogita até mesmo assinar um contrato com Lucy(fer), enquanto enfrenta todos os problemas causados com sua volta para casa, como visto na nostálgica e verdadeira 'Momma', ao ver que o mundo que o criou não melhorou em nada com seu sucesso. Sua mãe e suas origens também são assuntos recorrentes, e sua culpa e confusão continuam na paranoica e extremamente agradável 'Institutionalized', onde teme e chega a conclusão que todos estamos, pelo menos em parte, sob o sistema que tanto criticamos, e na realidade-pura e crítica ao exibicionismo 'You ain't Gotta Lie'. Ele até mesmo se culpa por todos os problemas já mencionados, na sincera e crua ‘U’ que ao contrário da animada e inspiradora ‘I’, conta com um Kendrick melancólico e afogando suas mágoas no álcool. Até mesmo na retrô e divertida ‘These Walls’ ele continua a se perguntar o quão ele próprio e toda a sociedade estaria errada. Mas nem tudo está perdido, na bela produção ‘Alright’ (com Pharell), ele acredita que tudo vai ficar bem e na já mencionada ‘I’ ele chega a conclusão que o amor é a saída, assim como em 'Complexion (A Zulu Love)', quando prega o amor independentemente da cor.


Se seus assuntos e questões, relacionáveis com toda a sociedade, são o que tornam o álbum importante, sua beleza está na entrega de Kendrick. Ele está de corpo e alma em cada momento, e enquanto ele nos mostra que não há NADA que ele não possa fazer com suas rimas, sua facilidade em tornar cada canção tão sincera e pessoal, por mais abrangente que o assunto seja, tornam ‘To Pimp a Butterfly’ um grito de socorro e desespero, enquanto a salvação parece estar dentro dele próprio.

‘To Pimp a Butterfly’ é um retrato da vida de Lamar nos dias de hoje, uma aula de história, um retrato da verdadeira pior parte da fama, mostrada de uma forma nunca antes vista e uma busca por respostas. Ao final de tudo Kendrick nos mostra que se o mundo precisa de uma cura, amar o mais escuro tom de negro, ao mais claro tom de branco, pode ser uma parte dela. Seja pela sua atitude, pela sua entrega, pela sua importância, ‘To Pimp a Butterfly’ é um registro a temporal, um trabalho seminal, que deve e será estudado no futuro. Enquanto Kendrick nos mostra que é capaz de fazer ainda mais, o que ele fez até agora já é digno de todo o reconhecimento.

5/5
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